Nestas minhas quase três décadas de vida não me vem à memória
eventos tão intensos em nossa cidade como os que têm acontecido recentemente. A
pouca idade me impediu de compreender “Diretas” e “Impeachment” quando
repercutiram em escala nacional. Contudo, manifestos, tropas de choque,
paralisações deixam o início de ano bem intenso, deste 2012 que não prometia
ser diferente. Afinal, quando se trata de ano eleitoral – sendo estas
municipais – os fatos da cidade ganham um toque especial.
Os historiadores e jornalistas seriam mais precisos ao tratar
do tema. Como um curioso da história que sou peço licença àqueles que me
precedem na tentativa de entender, ao menos um pouco, os acontecimentos mais
recentes e o quanto eles podem interferir no nosso cotidiano. Afasto-me, pois,
de qualquer viés jurídico, pelo menos nas próximas linhas.
Fico tenso ao ouvir colegas ou contemporâneos bradarem aos
quatro ventos que “não se interessam por política” ou que “votam segundo a
conveniência”. Não se interessar por política – penso eu – seria o mesmo que
afirmar que não despertam curiosidade a engrenagem das relações de poder, o dia
a dia das máquinas estatais e as atenções dos gestores voltadas à população. Causa-me
ainda mais inquietação quando ouço certos “comentaristas políticos” dos
noticiários locais resumirem sua fala de “política” em politicagem – quem se
aliou com quem, quem “abandonou” o governo, quem ascendeu ao cargo do dia.
Resume-se o que de mais interessante e produtivo existe no tema em meia dúzia
de fofocas palacianas.
Pois mais que Berthold Brecht tenha nos revelado que “o analfabeto político é tão burro que se
orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política” é compreensível a
repulsa causada pelo mau comportamento daqueles que se dizem políticos. Não é
sensato, contudo, comprometermos as próximas gerações abafando suas pretensões de
tentar mudar uma realidade posta. Os protestos de centenas de pessoas não surgem
do nada: são motivados por decisões erradas, pessoas erradas nos lugares
errados e, em especial, por nossas escolhas erradas. E são essas escolhas que,
em breve, depositaremos novamente numa urna.
Que não tenhamos pudor em explicar aos nossos filhos a
importância de um gesto simples que é o voto – direito e dever imposto por
nosso ordenamento jurídico. E que, principalmente, não tenhamos receio em dizer
a eles quem e por quais razões os escolhidos foram escolhidos. Consciência
política não é fenômeno – longe disso – é obra, que se constrói tijolo por
tijolo.